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Declaração de fé de Savoy


A história dos congregacionalistas (ou independentes) ingleses foi marcada por sucessivos reveses. Em meio a altos e baixos, o movimento puritano experimentou um curto período de ascendência e certa estabilidade durante o Protetorado de Oliver Cromwell (1653-1658). Cromwell liderou com destreza a unidade de cavalaria (Ironsides) do exército do Parlamento Inglês contra o exército do rei Carlos I durante a Guerra Civil de 1642. Após a execução do rei em 1649, Cromwell ganhou ascendência política e em 1653 dissolveu o parlamento republicano se tornando, efetivamente, um ditador militar, com o título de Lord Protector. Título que manteve até sua morte em 1658.

Cromwell tinha convicções congregacionalistas. Devido a suas convicções, ele promoveu um sensível fortalecimento do protestantismo inglês. Em um de seus atos, ele instituiu uma comissão de examinadores para avaliar a capacidade dos aspirantes ao ministério. Isto contribuiu diretamente para a formação de pregadores capazes e sérios que enchiam a Inglaterra. Nas palavras de Philip Schaff: “Em sua política externa, Cromwell foi o mais destemido protetor do protestantismo e da liberdade religiosa que a Inglaterra já produziu” (Creeds of Christendom, V. I, p. 744). O governo de Cromwell foi marcado pela tolerância religiosa. No entanto, é preciso ressaltar que essa tolerância era parcial. Incluía em seu bojo apenas o puritanismo e algumas facções protestantes consideradas genuínas, enquanto cerrava os olhos para os romanistas, socinianos e episcopais.

A idéia de se organizar uma confissão de fé que trouxesse uma relativa uniformidade ao movimento puritano independente da Inglaterra surge neste momento de favorecimento político do congregacionalismo. A princípio, Cromwell reluta com essa idéia. Porém, pouco antes de sua morte ele anuncia seu consentimento. O passo seguinte foi dado pelo secretário do Conselho de Estado que convocou todas as igrejas congregacionais de Londres e seus arredores para se reunirem no Palácio de Savoy. A Conferência foi realizada durante os dias 20 de Setembro e 12 de Outubro de 1658, em reuniões diárias, contando com a presença de cerca de duzentos delegados de cento e vinte congregações.

Um de seus líderes mais destacados era John Owen, considerado por alguns “o maior dos teólogos puritanos” (e. g., PACKER, John. Entre os gigantes de Deus, p. 87). Entretanto, a comissão de composição da Declaração de Savoy ainda reunia homens como Goodwill, Nye, Bridge, Caryl, e Greenhill. A conferência se propôs a utilizar a Confissão de Fé de Westminster, de escopo calvinista e presbiteriano, introduzindo algumas modificações de modo a substituir os elementos da eclesiologia presbiteriana por uma eclesiologia congregacional. Outras mudanças foram feitas à medida que percebiam a necessidade. O resultado foi uma confissão de fé calvinista com uma plataforma eclesiológica congregacional.

Após quase 153 anos de congregacionalismo em terras tupiniquins, finalmente é apresentada ao povo congregacional brasileiro uma tradução de sua mais antiga e importante confissão de fé, a Declaração de Savoy de Fé e Ordem. O nome se deve à sua associação histórica com o Palácio de Savoy, no Strand, Londres, onde foram sediadas as várias reuniões da comissão responsável por sua elaboração.

A Declaração de Savoy vem a lume em tempo oportuno. Quero destacar apenas dois de seus benefícios. Um geral e outro particular.

Primeiro, de modo geral, uma confissão de fé como a Declaração de Savoy vem realçar a importância da verdade proposicional das Escrituras Sagradas em um tempo de confusão epistemológica. O pós-modernismo trouxe em seu arcabouço filosófico os conceitos de relativismo e pluralismo. Para o homem pós-moderno, não existem absolutos. Uma vez que a verdade é subjetiva e individual, a tolerância é a atitude ideal.

Mais uma vez, a igreja se vê em um momento histórico onde não consegue filtrar o que absorve do meio onde está inserida. O pensamento pós-moderno tem invadido os arraiais protestantes e sua influência é sentida em várias frentes. A tolerância almejada não significa apenas respeitar o diferente, mas celebrar a diferença como algo bom e necessário diante de uma realidade multifacetada. No Brasil, o protestantismo tem sido capaz de dialogar amigavelmente com os mais diferentes sistemas teológicos e filosóficos. Práticas pagãs, misticismo católico medieval,Teologia da Prosperidade, são alguns dos elementos desse protestantismo sincrético e tolerante.

Nossa única regra de fé e prática é a Bíblia. No entanto, as confissões de fé, entendidas como elaborações teológicas de homens comprometidos com as Escrituras Sagradas, apontam para as verdades fundamentais do Cristianismo reveladas nas Escrituras, se opondo frontalmente ao conceito pós-moderno de verdade. Expondo as doutrinas bíblicas como verdades proposicionais reveladas e absolutas, elas anulam a possibilidade de uma tolerância fruto da falta de convicções. A adoção de um manual básico de teologia, como Savoy, permite a conservação da sã doutrina e sua defesa ante modismos teológicos.

Segundo, de modo mais particular, a Declaração de Savoy traz a possibilidade de se colocar como a base sobre a qual é possível produzir uma maior uniformidade denominacional. No Brasil, é praticamente impossível pintar um quadro realista do congregacionalismo como denominação. Há muito perdemos a nossa identidade devido à falta de uniformidade teológica que, conseqüentemente, gerou diferentes manifestações litúrgicas conflitantes com os princípios congregacionalistas. Quem são os congregacionais brasileiros? O que eles pensam? Quais são seus fundamentos doutrinários? Não há resposta. Em algum momento, perdemos o fio histórico que nos liga aos congregacionais ingleses. Talvez, um século e meio de desatenção à nossa principal confissão de fé nos forneça alguma pista do que aconteceu. A Declaração de Savoy em português vem suprir essa deficiência e, esperamos em Deus, nos estimular a começar a reconstrução de nossa identidade.


Fonte: Blog Themélios, postado por  em sábado, 21 de março de 2009.