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A superficialidade de Piragine (Nossa Santa Alienação Evangélica)


Esta semana um vídeo “bombou” na internet. O recebi de vários amigos, várias lists, comunidades no Orkut, twitter... por isso quero comentá-lo. É um vídeo onde o pastor da Primeira Igreja Batista de Curitiba, Paschoal Piragine Jr, recomenda de forma enfática que os cristãos não votem em quaisquer candidatos do PT. Faço minha crítica ao vídeo.

E a faço isto com muita tranqüilidade, por três motivos: primeiro por gostar de ouvir o Pr. Piragine, logo não se trata de criticar alguém por quem já nutro uma antipatia, o que tornaria a coisa muito mais fácil; segundo, porque apesar de por muitos anos ter militado pelo PT (mesmo sem nunca ter me filiado), hoje nem sequer voto em Dilma, ou no governador (aqui no Rio do PMDB, mas apoiado pela legenda) Sérgio Cabral. Logo, também não é um contraponto de um “petista melindrado” com as falas do pastor; e terceiro e último: sou batista, assim como o Pr. Piragine.

Em primeiro lugar gostaria de dizer que há algo de bom nisso: a igreja acordar pra sua participação política, não como massa de manobra, mas como força de conscientização. O problema é quando essa conscientização é feita em forma de “mensagem” e não em forma de “debate”. Um pastor falando do púlpito, sem que haja um espaço democrático de discussão do que foi dito, pode parecer manipulação, e não conscientização.

Mas achei superficial! Além de apelativo!

Em pouco mais de 10 minutos o pastor da PIB de Curitiba expõe o porquê não votar no PT. E aí começam os problemas: ele faz uma série de acusações que deveriam ser levadas a debate, e não colocadas como “vontade de Deus” para seu povo. As acusações são superficiais, e muitas vezes, mentirosas.

Não há no quadro do PT, por exemplo, uma defesa da pedofilia, como é explicitado no vídeo altamente apelativo colocado pelo pastor.

As lutas em questões como a homossexualidade estão presentes em quase todos os partidos, com deputados que apóiam e que votarão, sim, a favor da PL 122, mesmo contra a “orientação” de seus partidos, pois querem ficar bem com a “opinião pública”.

A questão da união civil entre homossexuais não deve ser enxergada em pé de igualdade com a idéia de “casamento gay”. Particularmente, até entendo que lutar por esse direito para aqueles que são homossexuais parece muito mais com os ideais de JUSTIÇA do Reino, por mais “ofensivo” que possa parecer à nossa fé. É uma questão muito mais complexa e exige um debate demorado e honesto, e não uma acusação leviana em um vídeo manipulador e superficial.

Mas a tônica da mensagem curta do Pr. Piragine girou em torno do que ele chamou de “iniqüidade estabelecida”, ou “iniqüidade institucionalizada”. E é aqui que, como dia minha avó, “a porca torce o rabo”.

Por que?

Porque o Pr. da PIB de Curitiba dá a entender que essa “iniqüidade institucionalizada” é patrimônio do PT, e é complicada uma afirmativa dessas.

Por que não dizer também do fisiologismo descarado do DEM, ou isso não seria uma forma de “iniqüidade estabelecida”?

Por que não falar do capitalismo selvagem e neoliberal do PSDB, que achincalha o pobre e favorece os mais ricos, pra que se tornem ainda mais ricos? Não seria isso “iniqüidade institucionalizada”?

Por que não dizer dos membros do PV que defendem abertamente a legalização da maconha, e o aborto? A “iniqüidade institucionalizada” é privilégio petista? E olha que eu voto abertamente e tranquilamente em Marina Silva.

Por que não denunciar líderes evangélicos, pastores, e outros pilantras “cristãos” que até hoje mantém seus domínios de rádios, gravadoras, etc... graças ao apoio prestado aos militares na época da ditadura? Em nome da” pregação do evangelho” vale apoiar a “iniqüidade institucionalizada”?

E a “iniqüidade institucionalizada” fora da política, como no caso do Sr. Silas Malafaia, que é um dos maiores “gritadores” contra a PL 122, mas que chama de trouxas aqueles que ofertam por amor, e promete os maiores absurdos em nome de Deus para seus fiéis depositários? Não seria o caso de apontarmos o dedo antes em nossa política “cristã” e “denominacional”, antes de partirmos pra “fora”?

Quais as fontes e companheiros do Pr. Piragine para tais acusações? Ele deixa claro, alguns pastores e setores da Igreja Católica. Um pouco de discernimento histórico nos mostra que a ICAR e principalmente o meio histórico tradicional e pentecostal brasileiro sofrem de uma aversão história aos que denominaram partidos de “esquerda”, principalmente os de influência marxista. Lembro de pastores dizendo que “vermelho é a cor do diabo e dos comunistas.”

Portanto, a ferida é muito mais profunda do que se imagina, e não é domínio do PT. Se queremos (e creio que devemos) discutir política em nossas igrejas, devemos fazê-lo de forma responsável, e democrática. Não de cima para baixo e baseado em informações que merecem um debate mais acurado.

Continuarei ouvindo algumas mensagens do Pr. Piragine... mas espero que ele continue fazendo o que durante mais de 30 anos faz muito bem... só pregar a Palavra.

E que fique bem claro... é somente uma opinião... Deus não me revelou isso, ok?


Fonte: Crer é também pensar - Postado por José Barbosa Junior – 03 de setembro de 2010.

 

 

A Dádiva de Deus (Lutero, especial Reforma Protestante)

 “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)

 

 A boa nova para um mundo pecador.

 

 Esse é, sem dúvida, um dos mais sublimes trechos evangélicos do Novo Testamento. Se fosse possível, teríamos que a gravá-lo em nossos corações com letras douradas, e todo cristão teria que se familiarizar com essas palavras e recitá-las em sua mente pelo menos uma vez ao dia, para conhecê-las bem de memória. Ali se escutam palavras que se forem cridas robustamente, conferem ao triste alegria, e ao morto, vida. Não podemos compreendê-las todas, não obstante, queremos confessá-las com a boca e rogar que o Espírito as transfigure em nosso coração e as faça tão luminosas e ardentes que penetrem até o mais profundo de nosso ser. É verdadeiramente um Evangelho de grande riqueza, repleto de consolo. “Deus amou ao mundo”, e o amou de tal maneira “que deu a seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.” O que isso significa, o ilustrarei com um quadro em que veremos por um lado ao doador, e por outro, o receptor, e alem disso, o presente, o fruto e o proveito do presente, e tudo isso em  uma dimensão indizivelmente grande.

 

 I. Deus, o Criador mesmo, é o que dá ao mundo o grande dom. O maior de todos é o doador. O texto não diz “O Imperador deu”, mas sim “Deus deu”: Deus, o Insondável, o Criador de tudo quanto existe. Mais o que isso quer dizer? As palavras humanas são demasiadamente pobres para explicá-lo em seu pleno alcance. Todas as coisas criadas são diante Dele como um grão de areia diante dos céus e terra. Com razão se fala Dele como do “que dá boas coisas”. Essa é, pois, a pessoa do doador. Quando escutamos a palavrinha “Deus”, devemos pensar que comparados com Ele, todos os reis e imperadores com seus dons e com suas cortes não são nada mais que um monte de lixo. Tanto deve nosso coração encher-se de gozosa reverência, que até mesmo o mais precioso tesouro dessa terra parecerá diminuto comparado com Deus; tão alta assim deve ser nossa estima para com o Senhor.

 

 II. O meio da entrega voluntariosa de Deus é seu grande amor. Alem disso, Deus dá de uma maneira que, tal como sua divina majestade, vai alem de toda medida. O que Ele nos dá, não o dá como recompensa de nossa dignidade, ou de ignorância de nossa indignidade, mas sim de puro amor; Ele “amou ao mundo”. Deus, como doador, realmente assim o É de todo coração, e é impulsionado por Seu amor divino, que não está condicionado por nenhum mérito da parte dos homens. Não existe nem em Deus nem nos homens uma virtude mais excelsa do que o amor. Pois por aquilo que se ama, se empenha tudo, corpo e vida. Certamente, a paciência, a castidade, a justiça, também são virtudes muito apreciáveis – no entanto, parecem pouca coisa comparadas com a virtude do amor, que é a suma de todas as demais. O que possui a virtude da justiça, dá a cada um o prêmio e a recompensa que por seus méritos lhes corresponde. Mas à aquele quem amo, a esse me entrego totalmente: para tudo o que se necessite, me acharei disposto. Assim, quando o Senhor nosso Deus nos dá algo, o dá não somente por causa de sua paciência, não somente por ser o administrador da justiça, mas sim por razão dessa virtude suprema que é o amor. Isso deve despertar nos corações humanos uma nova vida, tirar do meio deles toda tristeza, e atrair todos os olhares até o amor abismal que habita no coração de Deus - Ele, o doador máximo, doa impulsionado pela mais elevada virtude, e essa virtude confere à dádiva seu caráter tão precioso como dom que provem do amor. Quando nesse dom intervém o coração, se pode dizer “quanto aprecio esse presente, porque vejo que é de coração!” Não é tanto o presente em si que tomamos em conta, mas sim o afeto com que foi feito, o “coração”: isso é o que dá seu verdadeiro valor. Se Deus me houvesse dado um só olho, um só pé, uma mão apenas, e se eu soubesse que isso Ele o fez por amor divino e paternal, eu deveria dizer: “esse olho me é mais precioso do que mil olhos.” Assim mesmo, se toma consciência de que Deus lhe obsequiou o batismo, você deve sentir-se todos os dias como se já estivesse no reino dos céus – pois não é tanto o grande prestígio do batismo o que nos comove, mas sim o grande amor que Deus nos demonstra com ele.

 

 III. A dádiva de Deus é seu próprio Filho, e com Ele nos dá tudo. Grande é, portanto, o coração, grande o doador, e é inefávelmente grande, em terceiro lugar, a dádiva. O que Deus nos dá? “seu Filho”! Isso sim que se chama dar! Não uma moeda, ou um olho, ou um cavalo, ou uma vaca, ou um reino, tampouco o céu com o sol e todos os astros juntos, nem a criação inteira, mas sim “o seu Filho”, que é tão grande como o Pai mesmo! Saber isso há de ascender em nós uma luz no coração, mas ainda, um fogo, ao extremo de nos fazer saltar de alegria sem cessar, pois assim como é infinito e inefável o doador e seu propósito, assim também o é a dádiva. Ao dar-nos a seu Filho, o que Ele reteve de nós? Junto com seu Filho, ele mesmo se entrega a nós, como o expressa Paulo em Romanos 8:32: “Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?” Conforme essas palavras, tem que estar incluso tudo, nomeie como se queira, Diabo, morte, vida, inferno, céu, pecado, justiça ou injustiça, tudo tem que ser nosso, posto que nos foi dado o Filho, em quem subsiste todas as coisas. Em consequência: se cremos neste Filho e lhe aceitamos como dádiva de Deus, todas as criaturas, boas ou más, vivas ou mortas, tem que estar a nosso serviço. Nesse sentido Paulo diz em 1º Coríntio 3:21-23 “tudo é vosso; Seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, E vós de Cristo, e Cristo de Deus.” Em Cristo está compreendido tudo. Verdadeiramente: que dádiva é essa! Se pensar bem, você não poderá menos que dizer: “que é o ouro ou a prata, a glória e todas as demais coisas que apetecem ao homem, em comparação com esse tesouro?” Porem, ai está a maldita incredulidade (da que Cristo se queixa depois) e essa terrível cegueira que faz com que se mau temos ouvimos essas coisas, não as creiamos, e permitimos que palavras tão sublimes e consoladoras entrem por um ouvido e saiam pelo outro. Como as pessoas se apressam quando se lhes apresenta uma boa oportunidade de comprar um palácio ou uma casa, como se nossa vida dependesse por inteiro de tais bens materiais! Porem, aqui onde nos é pregado com palavras tão formosas que Deus nos há dado a Seu Filho, manifestamos indolência que não tem comparação. Quem é que faz com que essa dádiva tão grande seja tão pouco estimada, que não se a gravemos no coração, e que não sejam dadas a Deus as graças por ela? É o maligno, o diabo, que tomou posse de nosso coração e que faz com que sejamos duros e frios. Por isso eu disse que cada manhã teríamos que levantar da cama com essas palavras e agradecer a Deus por elas. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” aqui temos as três partes, o que dá, Seu amor e Sua dádiva, a saber, Jesus Cristo. Com isso está dado tudo.

 

 IV. A única condição junto à dádiva é que a aceitemos. Porem existe algo mais que devemos tomar em conta: Deus conceitua sua dádiva não como um pagamento ou uma recompensa a que tenhamos um direito, mas sim realmente como um dom. Não nos foi emprestada, nem há que pagá-la, tampouco se fala de um esquema. O único que há que se fazer é estender a mão. Oh Senhor, tem piedade de nós que somos tão duos para crer-lhe! Deus quer dar-lhe seu dom não só para tocá-lo timidamente, mas sim o quer dar a você de verdade, não como prêmio, mas sim como propriedade sua. Você não tem mais que o fazer que não seja aceitá-lo. Porem, adivinhe: como se chama as pessoas dos quais se diz: “ a ninguém se lhe regala nada contra sua vontade?” Suponhamos que um príncipe gênero fizesse para um pobre que não tem onde cair morto a oferta de presentear-lhe um palácio, e que lhe reportaria um benefício anual de 1.000 florins, e esse pobre lhe contestasse: “Não o quero”. Seguramente todo mundo bradaria: “Jamais se viu um idiota como esse! Que animal!” Sim, assim diria o mundo. Mas aqui não lhe dá só um palácio; aqui Deus dá a Seu Filho, gratuitamente; porque Ele mesmo nos convida: “estenda sua mão, tomá-lo!” Nosso papel é, segundo a vontade de Deus, o de recebedores, nada mais. E isso não o queremos! Agora, calcule que pecado mais grave é a incredulidade! Resistir ao Senhor que quer nos dar a seu Filho, isso já não é coisa de seres humanos! Porem, nessa incapacidade de alegrar-se pelo dom de Deus podeis ver que o mundo inteiro perdeu o juízo e está possuído pelo demônio. Não querem se conformar em serem simples recebedores. Ah, se fora um florim o que nos fosse oferecido, isso sim despertaria a alegria geral, porem o Filho de Deus, esse não! Tão completamente se acha o mundo em poder do diabo! Essa é a quarta parte: o que Deus nos oferece, deve-se considerar pronta e plenamente uma dádiva: não é requerido que a consigamos mediante certos serviços, nem que a paguemos.

 

 V. O destinatário e receptor da dádiva de Deus é o mundo pecador. Em nosso quadro também figura o recebedor: o mundo. Recebedor abominável, parece-me, indizivelmente abominável. Com que o há merecido? Por acaso o mundo não é a noiva de Satanás, o inimigo de Deus e seu maior blasfemador? O maior inimigo de nosso Deus é o diabo – porem o segundo somos nós, que sem Cristo somos filhos do diabo. Pois bem: assim como têm tomado consciência do que é Deus, e o Filho de Deus, e de como esse Filho é a dádiva de Deus, grave agora também em seu coração a imagem fiel do que é o mundo. O mundo não é outra coisa que uma massa de homens que não crêem em Deus, que o consideram por mentiroso, que blasfemam de Seu santo Nome, que desprezam Sua palavra, que desobedecem a pai e mãe, que cometem adultério, que caluniam, furtam e praticam toda sorte de outras maldades. Salta a vista que no mundo impera a infidelidade, a blasfêmia e todo quanto vício que se possa catalogar. E a essa amada noiva e filha, que é inimiga de Deus, que Ele dá seu Filho.

 

 Eis aqui outro fator que dá realce à dádiva: que nosso Deus e Senhor não se afasta enojado desse mundo ruim, mas sim que traga de um só gole todas as iniqüidades dos homens: as blasfêmias que proferem contra Seu nome, e a transgressão de todos Seus mandamentos. Apesar de toda grandeza como presenteador, Deus realmente deveria sentir uma profunda repugnância ante ao mundo e sua maldade, já que os pecados do mundo não têm não soma. E, no entanto, Deus vence a maldade e apaga os pecados contra a primeira e a segunda tabua da Lei e já não quer saber mais nada deles. Não deveria de ter amor e confiança para com Aquele que quita os pecados e ama ao mundo com todas suas transgressões? E que inumeráveis elas são! Não há homem que possa contar seus próprios pecados – quem poderia contar os do mundo todo? E, não obstante, o Evangelho nos diz que Deus há dado a Seu Filho “ao mundo”. Não pode então caber a menor dúvida: se Deus ama ao mundo que blasfema Dele, a remissão dos pecados tem que ser uma realidade incontrovertível. Se Deus pode dar ao mundo, que é seu inimigo, um presente tão grande, ou melhor ainda, se Ele mesmo se entrega ao mundo, como Ele pode odiar ao mundo? Que coração não deveria encher-se de regozijo diante do fato de que Deus mesmo intervêm na miséria humana, e dá Seu amado Filho aos homens malfeitores? Que malfeitor fui, por exemplo, eu mesmo, que durante anos li a missa e crucifiquei a Cristo, e pratiquei todas as idolatrias próprias da vida monástica! E apesar de ter-lhe ofendido tanto, me conduziu ao conhecimento de Seu Filho e de si mesmo – tal é Seu amor para comigo, sua criatura pecaminosa, que não recordará de todo o mal que lhe fiz. Oh Senhor Deus, que homem deve ser aquele que, em vista de tudo isso ainda persiste em sua ingratidão! Gozo, indizível gozo deveria nos encher e gostosamente deveríamos não só servir-Lhe, mas sim também sofrê-lo tudo, e rirmos quando tivéssemos que morrer por causa Dele, nosso amoroso Pai que nos há dado um tesouro tal como esse. Não deveria eu de sofrer prazerosamente até mesmo a morte na fogueira como fiel testemunha de meu Senhor, se essa fé me anima? Se isso não acontece, se esse gozo não se produz, agradeçamos isso à nossa incredulidade que nos freia. Assim, pois, temos visto o enorme que é tudo isso: o doador, Seu amor, Seu dom, o recebê-lo, e também a pessoa que o recebe.

 

 VI. A finalidade da dádiva de Deus é a salvação da morte e a vida eterna. Segue agora o propósito último do doador divino. Qual é sua intenção ao nos dar sua dádiva? Não me a dá para que eu coma ou beba dela, mas sim para que tenha dela o maior dos proveitos. Não a quer dar como um simples dote, assim como tampouco nos dá o batismo e a santa ceia como partes de um dote. Antes, a finalidade é que “todo aquele que Nele crê, não pereça, mas tenha a vida eterna.” Não se trata de que Ele me dê um reino ou o mundo inteiro – o que quer dar-me é que eu esteja livre do Inferno e da morte, livre do perigo de perder-me para sempre. Essa é a missão que o Filho deve cumprir: o diabo ter que ser devorado, o inferno extinguido, e eu tirado da interminável miséria. Tal há de ser o efeito da dádiva – deve trancar à chave às portas do Inferno. E converter um coração débil em um coração forte e confiante – e não só isso, mas que também deve criar vida, e vida perdurável. Isso sim que se chama uma dádiva! Quem queira que seu coração transborde de alegria, aqui achará motivo mais que suficiente para isso – pois nessas palavras do Evangelho nos é prometido uma vida eterna onde já não se verá a morte, onde haverá plenitude de gozo e onde experimentemos a mais ampla certeza de ter um Deus cheio de misericórdia e graça. Por essa razão, o que aqui nos é dito são palavras em cujas profundidades ninguém logra penetrar completamente. Dia a dia se deve as pronunciar em oração e com o rogo de que o Espírito Santo as inscreva no coração com letras indeléveis. E esse mesmo Espírito faça então de nós um bom teólogo, um que saiba falar de Cristo, discernir toda a doutrina e sofrer com paciência tudo o que Deus lhe imponha. Porem, se deixamos passar ao longe essas palavras com um bocejo, tampouco poderão ter efeito duradouro, e o coração fica tal como estava antes. Esse estado de coisas sempre de novo dá lugar a tristes reflexões – mas aqueles que contudo que tão despreocupadamente deixaram que essas palavras se perderam ao vento, o lamentarão no inferno.

 

 VII. A fé é a mão que se apropria da dádiva da vida eterna.  Qual é agora a maneira como posso apropriar-me dessa dádiva? Qual a bolsa, a arca em que se pode depositar esse tesouro? É a fé, a saber, a fé com que se crê – essa faz que abramos as mãos e a bolsa. Pois assim como Deus é o doador por meio do amor, nós somos os receptadores por meio da fé. Vocês não precisam a merecer mediante uma vida monástica. Suas próprias obras nada têm que ver nesse assunto. O único que deve lhes importar é que o deixem Ele dar – em outras palavras: que mantenhas a boca aberta. Eu não tenho que fazer nada, simplesmente ficar quieto, e esperar que me coloquem a comida na boca, por assim dizer. Dessa maneira o dom é dado por amor e recebido por fé. Se você crê isso: “De tal maneira amou Deus ao mundo, que há dado a seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crê não se perda, mas tenha a vida eterna”, então com toda certeza é salvo e bem-aventurado – porque o dom é demasiadamente grande como para duvidar-se da capacidade de tragar a morte. Como o jogar uma gotinha d’água nas chamas de um forno, assim é o pecado de todo o mundo comparado com essa dádiva. Nem bem o pecado entre em contato com Cristo, já fica também extinguido, como se extingue uma chispa de fogo quando essa cai no mar. Mas isso só acontece quando alguém se apropria desse tesouro mediante a fé e coloca em Cristo toda sua confiança. Isso é o que nos dize o texto: “De tal maneira Deus amou o mundo”. Palavras áureas, palavras de vida! Queira Deus que possamos captá-las! Pois ao que pensa nessas palavras, nenhum diabo lhe pode assustar – tem que ter o coração repleto de alegria e dizer: “Tenho a teu Filho, e como testemunha me tem dado alem disso o Evangelho, quer dizer, Tua própria palavra. Já não há engano possível. O creio, Senhor, e sei que mais não tenho que fazer. Ou, se duvido, concede-me Tua graça para que eu o creia” Assim pois, aprenda cada qual crer com mais e  mais firmeza – porque o crer é indispensável para receber. E dessa maneira o homem chega a ser feliz e alegre, de modo que com gosto fará tudo e padecerá tudo, porque sabe que possui um Deus que lhe é propício.

 

 VIII. Essa dádiva está destinada a cada homem em particular. “Muito bem”, me dirás “isso tudo eu poderia compreender se eu fosse Paulo, Pedro ou Maria. Aquelas pessoas foram pessoas santas; a elas eu creio que lhes foi dado esse dom. Porem, como posso saber que me foi dado a mim também? Eu sou um pecador, não mereço tal coisa.” Por que você não se fixa nas palavras que dizem a quem Deus há dado a seu Filho? Ao mundo! Porem, o mundo não é Pedro e Paulo, mas sim todo quanto tem natureza humana. E bem, você crê que é um ser humano? Tome-se pelo nariz e veja se você não é um homem como qualquer outro! Em que estamos, pois? Não diz o texto que o Filho há sido dado ao mundo? Por conseguinte, todos os que são pessoas humanas, devem apropriar-se do dom que Deus lhes oferece. Pensar eu você e eu ficamos excluídos, é anular toda a dádiva: porque a ti é a quem importa, você é um ser humano e por assim também uma parte do mundo. Deus deu seu Filho não ao diabo, ou aos cães, etc, mas sim aos homens. Por isso não há que colocar em dúvidas a veracidade de Deus dizendo: “Quem sabe se me o deu a mim?” Isso significa fazer de nosso Senhor e Deus um mentiroso.  Faze-te cruzes para que tais pensamentos não te enganem nem se aninhem no seu peito! Diga porem: “O que me importa que eu não seja Pedro nem Paulo! Se Deus houvesse desejado dar sua dádiva aos quais são dignos dela, o haveria dado aos anjos, ou ao sol, ou a lua. Esses teriam sido limpos e puros. Porem, quem era Davi? Um pecador, o mesmo que também os apóstolos.” Por isso, ninguém deve ceder ao argumento de “eu sou pecador, portanto não sou digno do dom de Deus, como o é um Pedro.” Ao contrário, assim é como deves pensar: “Seja eu o que for, de nenhum modo devo fazer de Deus um mentiroso. Eu pertenço ao ‘mundo’ que Ele amou. E se não me apropriasse da dádiva de Deus ao mundo, acrescentaria a todos os demais pecados ainda esse de culpar a Deus de mentiroso.” Você me objetará: “Como posso pretender que Deus está pensando só em mim?” Não, Deus está pensando em todos os homens em geral; por isso mesmo não posso senão ter a plena certeza de que não exclui a nenhum. Porem, se alguém se considera excluído, ele mesmo terá que dar conta disso. Eu não quero julgar-lhe, porem sua própria boca o julgará por não ter-lhe aceitado.

 

 E aqui ponhamos ponto final à exposição dessas palavras. É uma mensagem belíssima de que jamais se acabará de aprender. É o texto básico que nos descreve a Cristo, e que nos diz o que o cristão possui, o que é o mundo, e que é Deus. Invoquemos ao Senhor para que o possamos crer firmemente, tomar-lo como consolo em sofrimentos e morte, e por fim chegar à bem-aventurança eterna. Ele o conceda-nos por Sua graça. Amém.

 

 

 

Original em espanhol: El Espíritu Santo Nos Habla De Dios Para El Hombre .
documento digitalizado por ANDRÉS SAN MARTÍN ARRIZAGA
Tradução: Armando Marcos Pinto
23 de outubro de 2011

 

O Pentecostalismo e o Desprezo à Reforma

 Por Samuel Balbino

Não me entendam mal. Se o título dessa postagem parece ofensivo não é menos do que a atitude da maioria das denominações pentecostais. Estamos no mês onde se comemora 494 anos da Reforma Protestante e sempre nessa data as denominações de confissão histórica estão promovendo seminários, palestras, congressos, simpósios. Tudo para avivar na mente das pessoas a importância desse acontecimento. Mas e as pentecostais? O que elas fazem para honrar o retorno do Cristianismo à pureza do evangelho de Cristo? Nada!

Estive fazendo uma pesquisa nos sites das principais denominações pentecostais do país e nada encontrei sobre a Reforma. O que podemos concluir com isso? Que há um desprezo sem igual por aquilo que nos possibilitou estarmos aqui hoje. A pergunta é: Por que isso acontece. Tenho algumas respostas.

Não é interessante ficar relembrando um evento que pode desenvolver nas pessoas um senso crítico que as impeça de receber as fortalezas lançadas continuamente nesses lugares. Qualquer cristão sincero e que estude fielmente a Bíblia e a história da Reforma irá encontrar sérias contradições entre o que hoje é chamado de protestantismo e aquilo que foi pejorativamente denominado protestante no século XVI. As diferenças gritantes, ao contrário do que afirmam alguns, não são irrelevantes, pois se tratam da essência e do âmago da Fé que protestou contra o papado e as aberrações deste. Ora se algo perde sua essência, isto significa que perdeu também sua identidade. Já pensou se Deus perdesse sua essência? Simplesmente não seria mais Deus. Assim também se o protestantismo perdeu sua essência e valores, logo deixou de ser protestantismo para ser qualquer outro “ismo” por aí.

Mencionar a Reforma exigiria da parte de certas lideranças o compromisso de assumir o risco de perder membresia para o estudo e meditação de assuntos que realmente são importantes para a Igreja. Na grande maioria das denominações pentecostais, e porque não dizer 99,9 % delas, predomina o antropocentrismo doente, o humanismo sofista que leva as pessoas a procurarem antes de tudo o seu próprio bem-estar. Não vemos essas denominações pregando as doutrinas da Graça de Deus como eleição, justificação, etc. Alguns talvez digam: Ah, isso é calvinismo! Ora então Lutero era calvinista, pois falou reinteiradas vezes sobre esses temas. Não amados, esses temas não são meramente calvinistas, esses eram os temas que se pregavam nos púlpitos comprometidos unicamente com a pureza do evangelho. Os púlpitos que priorizavam o genuíno evangelho. Um pastor que de fato é protestante não importuna a congregação com mensagens que alisam o ego humano, que induz o povo a uma busca por prosperidade e curas nem nada que seja material e temporário, antes os púlpitos protestantes falam de coisas eternas, ensinam como ajuntar tesouros nos céus e apontam aos pecadores qual é o caminho da salvação, ensinando-lhes a baterem na porta dos Céus implorando para serem aceitos por Deus e sua misericórdia!

Quando se faz simpósios e congressos pentecostais quais são os temas que abordam? “Vida Vitoriosa”, “Festival de Maravilhas”, “Fogo para o Brasil”, as palavras que vejo saindo dos lábios de muitos pregadores são: Cresça, conquiste, prospere, determine, profetize, grite, pule, não aceite, apareça, se engrandeça e etc. Ao invés disso deveriam dizer: Se prostre ante a majestade e soberania do Eterno, humilhe-se na presença de Deus para que ele a seu tempo vos exalte. A Igreja hoje têm perdido o sentido do que vem a ser o evangelho da humilhação. As falsas experiências sobrenaturais estão destruindo a pureza do evangelho, as visões, profecias, línguas, curas, idas ao céu e ao inferno, combates contra demônios e toda a sorte de mentiras usando as Escrituras têm prevalecido e construído uma das fortalezas mais difíceis de derrubar. E tais líderes perceberam que sem essas coisas não é possível construir grandes impérios mercantilistas travestidos de congregações e igrejas. Precisamos continuar a Reforma!

A Reforma traz à lume uma visão de Deus muito desagradável. Não pensem que foram bons motivos que levaram alguns apóstatas a abandonarem os princípios da Fé Protestante e criarem os seus próprios. O que acontece é que o pensamento reformado reconheceu a centralidade de Deus em todas as coisas, colocando o homem em último plano. Isso pode ser muito desagradável para alguns. Imaginar que suas vidas estão sendo controladas e convergindo num plano maior do qual eles não têm como saber de que forma irá terminar ao certo, pode parecer muito frustrante. A vontade de possuir o controle de tudo é o dínamo que move o homem em direção a rebeldia contra a soberania de Deus. Falar em Reforma é falar em Deus soberano. Deus soberano é o mesmo que homem incapaz e homem incapaz é o mesmo que ferir o orgulho com qual muitos se exaltam em afirmar que podem frustrar os planos e desígnios de Deus deixado-os a mercê de suas torpes decisões.

Um pentecostal jamais irá admitir plenamente a soberania de Deus, pois sua cosmovisão distorcida da realidade o leva a questionar a justiça e benignidade do Eterno julgando-os por seus próprios conceitos de justiça e retidão. Sendo assim, para muitos este é um assunto que deve permanecer em secreto, e se mencionado que se faça superficialmente para que não se desperte a curiosidade do povo e não os faça pesquisar mais sobre o mesmo e dessa forma questionar as coisas que tem aprendido rotineiramente nos “cultos de fogo”. Vejo todo esse panorama com profunda semelhança à questão dos fariseus e doutores da Lei, os quais impediam as pessoas simples de tomarem conhecimento da verdade surrupiando-lhes a chave do conhecimento. Talvez a história hoje seja a mesma, mudando-se apenas os protagonistas.

“Ai de vós, doutores da lei! porque tomastes a chave da ciência; vós mesmos não entrastes, e impedistes aos que entravam” (Lucas 11.52).